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Em tempos de Pandemia a poesia inspira trabalho acadêmico de alunos de Direito da Unesc


Um grupo de alunos do 3º período do curso de Direito da Unesc de Vilhena produziu um vídeo como fechamento do semestre na disciplina de Projeto Integrador, baseado  na Poesia “Paroxítona”, que faz alusão à “pandemia”, palavra paroxítona mais falada no mundo atualmente.
Escrita pelo aluno Jefferson Faria, a poesia relaciona o momento atual aos direitos fundamentais do cidadão. Jefferson conta que o assunto é maçante e optou pela linguagem poética para dar mais leveza a um tema tão atual e relevante para a sociedade.
O texto leva à reflexão quanto ao que ele chamou de “violações flagrantes” de alguns desses direitos básicos, além do descaso de governantes que só visam seus próprios interesses.
Interpretado por outros onze colegas do grupo, a poesia foi intercalada por vozes masculinas e femininas, ao som da música  “Sadness and Sorrow”, que significa tristeza e pesar. Para dar mais vida à obra, Jefferson e a acadêmica Luana Cabral, que são violinistas, interpretaram a canção em diversos locais da faculdade Unesc, com cenários melancólicos, propositadamente criados para criar essa sensação de abandono, dado à questão do distanciamento entre os alunos. “Escolhi essa música porque precisava de uma base sonora capaz de expressar a dor, a angústia e o sofrimento das pessoas durante a pandemia”, disse o poeta e acadêmico de Direito.
A acadêmica Emanuele Toledo interpretou a personagem de uma aluna vestida de preto que vai à faculdade, mas, não encontra ninguém. Desesperada, ela anda de um lado para o outro sem saber o que fazer. Lê notícias sobre a pandemia e sua agonia fica ainda maior quando percebe que está “sozinha no mundo”.
Para chegar ao poema final, todos os componentes do grupo discutiram a situação atual, que envolve inclusive o distanciamento social na educação. A partir desses dados, Jefferson Faria escreveu a poesia que, semanas depois, virou um vídeo produzido pelo grupo com o auxilio de um produtor.
A intenção do projeto, segundo o autor da poesia, era “sair do quadrado, da bolha” da academia. E parece que o objetivo está sendo alcançado. Mal foi publicado, o grupo passou a receber diversos elogios pela mensagem do vídeo. Nas redes sociais, as visualizações e comentários aumentam e ajudam a divulgar a mensagem.
A professora Aline Leon, responsável pela disciplina, se emocionou ao falar do produto final produzido pelos alunos. Para ela, a capacidade criativa nesse momento, evidenciou uma vertente muito positiva para quem cuidará dos direitos das pessoas num futuro próximo. A poesia, reproduzida na linguagem audiovisual, com a participação dos próprios alunos como atores, dubladores e produtores, elevou o nível da disciplina, que tem como objetivo, justamente estimular a criação científica além dos padrões convencionais, o que na prática poderá colaborar para uma justiça mais acessível a todos, completa a docente. (Texto: Paulo Mendes/Fotos: Jonatas Santana)

PAROXÍTONA
O ano é 2020, A esperança
enche os corações,
As pessoas estão felizes:
Expectativas, otimismo, boas vibrações.
O primeiro mês foi longo
E talvez isso fosse um sinal,
De que esse ano seria histórico
De uma forma letal.
A gente podia ter feito algo
Podia ter tomado alguma atitude, afinal.
Poderíamos ter começado de forma simples,
Cancelando o carnaval.
Informações já tínhamos
E mesmo assim permitimos acontecer,
Deliberadamente deixamos
O nosso povo perecer
A culpa é minha, admito
Mas é sua também
A culpa é toda nossa, isso é fato,
E dessa culpa não escapa ninguém.
Surge um inimigo,
Um inimigo poderoso
Ele é minúsculo, invisível
Mas extremamente perigoso.
Ouvimos então sobre um vírus
Algo inédito e desconhecido
O povo custou entender de verdade
A seriedade do ocorrido
E de repente, de uma só vez
Fomos tomados pelo pânico,
Os governantes não sabiam o que fazer
E a tragédia vai nos dominando.
Aparecem siglas de todos os lados
E começa a guerra de narrativas
Enquanto isso no país,
As pessoas morrem de fadiga.
No nosso país existe um livro complexo,
Um livro que deveria guiar a nação,
Mas o que vimos na prática
Foi total desrespeito à Constituição
Nesse livro fica definido
Toda a organização da nossa sociedade.
Uma divisão que estrutura
Desde o governo federal até o governo das cidades
Mas nesse momento que vivemos
Existe interpretações diversas
E está muito confuso
O rumo dessa conversa
O Livro define uma divisão tripartida Executivo,
Legislativo e Judiciário, entendeu?
Parece simples, não é mesmo?
Coisa de Montesquieu.
É necessário falar disso
Mesmo que isso custe alguns versos,
Porque precisamos entender rapidamente
Que isso aqui tem sido perverso.
Os três poderes assim conhecidos
Em tese deveriam se completarem,
Mas não estão respeitando isso
E por isso as pessoas padecem
Inventaram um sistema com nome bonito
Chamado de freios e contrapesos
Mas na prática não é nada disso,
E está tudo ao avesso.
O ano é 2020
E o mundo parece um lixão
Medo, insegurança, desespero
E só agora as pessoas aprenderam a lavar as mãos.
Vidas ceifadas, tomadas a força.
Famílias se desfazendo em lágrimas
Quem sãos os responsáveis,
Por enterrar corpos em valas?
Onde estão nossos representantes,
Que deveriam cuidar do povo?
Estão de politicagem
Procurando pelo em ovo
O vírus domina o mundo,
Transforma vidas num crepúsculo.
E o que fazem nossos representantes?
Disputam pra ver quem tem menos escrúpulo.
As siglas internacionais
Têm nítido interesse político
Ninguém sabe exatamente
Como sair desse ambiente apocalíptico
Pandemia:
uma paroxítona que se tornou recorrente.
Jornais, revistas, toda a imprensa,
Destaca essa palavra urgente
Sabe aquele livro complexo que já citamos?
Ele nos dá direitos e benefícios,
Mas sabe o que realmente recebemos?
Indiferença e malefícios
O desemprego assola o país
Não há quem solucione essa questão
E tem gente mais preocupada
Com o ano de eleição
Empresas fechando as portas,
Pais de famílias desesperados,
Aumento da violência doméstica,
Que momento famigerado.
As notícias só trazem medo
E os rumos são incertos.
Nós estamos morrendo aos poucos
No meio desse deserto.
Não há respeito à hierarquia,
É uma bagunça danada.
Município querendo ser soberano
E a soberania popular não faz nada
Somos uma nação formada
Por entes federados,
Mas não se confunde federação
Com soberania para autoritários.
Autonomia os entes têm
Mas não têm soberania
Só que o que vemos realmente,
É uma enorme baixaria.
Nesse imbróglio terrível
Percebe-se vários arroubos.
As pessoas não são mais pessoas
Passaram a serem números.
Sem hipocrisia, a culpa é nossa
E não venha dizer que é generalização,
Esse tipo de bagunça
Se conserta na eleição.
Quem já ouviu falar
Da dignidade da pessoa humana?
Se isso existisse de verdade,
Não morreriam pessoas por falta de cama.
Não é possível que não consigamos entender
Que tem coisas fora da “realidade”.
Não podemos permitir
Atos de inconstitucionalidade
Enquanto você ouve esse poema,
Mais seres humanos morrem.
E os governantes devassos,
Das suas responsabilidades correm.
Aquele livro maneiro
Nos garante coisas essenciais:
Dignidade, trabalho, liberdade,
Nós chamamos de direitos e garantias fundamentais
Mas vejam só que medonho,
A sociedade à beira do abismo
E se já não bastasse a pandemia,
Tem gente morrendo por conta de racismo.
Você pode se perguntar nesse momento
Qual a intenção desses versos?
Tudo isso você já sabe, não é?
E percebe o quanto é perverso.
A intenção é mostrar os culpados
Antes que seja muito tarde.
Porque bons brasileiros que somos
Vamos fazer nossa parte.
Nós vamos sair dessa logo mais,
Pare para refletir,
Porque nós somos brasileiros de bem
E voltaremos em breve a sorrir.
Se fizermos nossa parte
Lutando contra a injustiça e corrupção,
Logo colocaremos nos trilhos
Essa promissora nação.
Isso vai acabar.
A gente vai voltar a se ver, se abraçar,
Mas não esqueçam:
Não podemos voltar a ser os mesmos.
Porque a nossa conduta nos levou a isso.
Melhorar, é a palavra de ordem,
Amar o próximo, é o caminho para isso
Fiquem bem.
Jefferson Venâncio de Faria 18/05/2020